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Salvador, Bahia, Brazil
Este blog contempla as experiências dos alunos do 1º semestre do curso de comunicação da Faculdade da Cidade do Salvador(FCS) - Jornalismo e Publicidade para a disciplina Trabalho Interdisciplinar Dirigido (TID). Com a temática "Autores Brasileiros" a equipe formada pelos alunos: Amanda Soriano, Daniela Mattos, Greicehelen Santana, Larissa Pamponet, Vanessa Fontes, Zaidan Torres e Zaira Aragão, escolheu trabalhar as crônicas da escritora Lya Luft. A professora responsável pela disciplina, é a jornalista Nadya Argôlo.

domingo, 9 de junho de 2013

Solidão




Eu queria solidão, para não ferir aos outros nem ser machucada....
Estou cansada. Vazia. Desgastada, o coração desgasta de sofrer, sei disso...

Lya Luft

Anjo



Um anjo vem todas as noites
senta-se ao pé de mim, e passa
sobre meu coração a asa mansa,
como se fosse meu melhor amigo.

Lya luft

sábado, 8 de junho de 2013

O ano das criancinhas mortas


O ano das criancinhas mortas
Ao contrário do habitual, não escrevo sobre projetos, sonhos, depressões e culpas que para muitas pessoas caracterizam as festas de fim de ano. Não sou qualificada a falar do tema que elegi, a não ser como observadora das nossas glórias e misérias humanas: mas às vezes não dá para calar. Refiro-me ao que, tendo ocorrido há duas semanas, ainda me faz arrepiar a raiz dos cabelos: mais uma carnificina nos Estados Unidos, mais um demente solto a fuzilar gente inocente. Nesse caso, vinte criancinhas de 6 e 7 anos, e suas professoras (antes, a mãe do assassino). Já ocorreu neste nosso Brasil, embora, que eu saiba, uma vez ou duas, em uma escola no Rio, em um cinema em São Paulo. Já ocorreu numa escola na civilizadíssima Escócia e na mais civilizada ainda Noruega, onde um insano matou dezenas de jovens numa ilha sossegada.
Se nos Estados Unidos são frequentes essas matanças, por aqui morremos todos os dias nas ruas, nas casas, a tragédia é cotidiana: morremos mais aqui do que em qualquer guerra. Não sei se há muito a fazer, cada país tem suas características próprias, mas no caso dessas carnificinas por um desequilibrado deverá ser algo cirúrgico, rigoroso, ainda que sendo humano. Escapando de jogos políticos e outros interesses, o que é quase impossível, sobrepondo-se ao lastimável politicamente correto, o que exige coragem. Primeiro, precisamos de rigor no controle de armas. No Brasil e em outros países onde o narcotráfico é forte, a miséria grande e os vícios quase incontroláveis, compram-se armas de fogo por alguns trocados em qualquer beira de favela ou embaixo dos viadutos. Mesmo nos Estados Unidos, que mal saem do choque pela morte das crianças — um policial que chegou primeiro ao local, tendo servido em duas guerras, disse nunca ter visto carnificina igual à executada naqueles corpinhos — há quem batalhe duramente em favor do uso de armas. Teria a ver com liberdade, “qualquer cidadão tem de poder possuir armas para se defender“. Obama, na ocasião, indagou se a liberdade valeria tantas mortes. A arma usada pelo criminoso era de guerra, mas, segundo comerciantes, é uma das mais vendidas no país. Talvez seja uma pergunta ingênua, mas não seria melhor controlar isso de que precisamos nos defender em lugar de favorecer que qualquer um adquira armas pesadas?
Segundo, precisamos, sim, rever em toda parte nossos conceitos, leis e preconceitos quanto a doenças mentais. O politicamente correto agora é a inclusão geral, significando também que crianças com deficiência devem ser forçadas (na minha opinião) a frequentar escolas dos ditos “normais“ (também não gosto da palavra), muitas vezes não só perturbando a turma, mas afligindo a criança, que tem de se adaptar e agir para além de seus limites — dentro dos quais poderia se sentir bem, confortável, feliz.
Pessoas com qualquer tipo de transtorno mental devem ser cuidadas conforme a gravidade de sua perturbação, que pode ser leve ou chegar a estados perigosos para si mesmas ou para os demais — o que na maioria das vezes irrompe ou se agrava no fim da adolescência. Mas em geral, pela tremenda dor de termos um filho ou filha com tais problemas, fingimos que nada ali é “anormal“ (detesto essa palavra também).
É feio levar ao médico a criança com transtornos psiquiátricos, porque é feio desconfiar que um filho ou filha tem esse tipo de “problema“: é mais feio ainda aceitar tratamento (“remédios fazem mal“, “vacina me deixa doente”, “anticoncepcionais me atacam os nervos“). Pior que tudo, pensar em colocar mesmo nas melhores clínicas quem já não tem condições de viver e conviver com os outros na escola, na rua e até em casa. Parece ter sido o caso do jovem Herodes americano, que a mãe protegeu até onde foi possível, mas que, depois de a liquidar com vários tiros de arma pesada na cabeça, chacinou vinte inocentes criancinhas e seis professoras. Ao fim e ao cabo, chegando a polícia para interromper sua faina mortal, o rapaz se suicidou. Por alguns momentos, breves, o mundo respirou em relativa paz.
 Lya Luft|Veja|31/12/2012|

terça-feira, 4 de junho de 2013

Três senhoras sentas

                                As mulheres sentadas no ônibus representam um instante de alívio. Breve trégua, até a próxima tentativa (Foto: Hoje em Dia)
Eram três mulheres de uns 50 anos, simples, robustas, cansadas e suadas, esperando ônibus no Rio havia mais de uma hora. Calor, desconforto. A van que costumavam usar a caminho de seu emprego fora desativada com outras. Problema nas vans? Em vez de corrigir, a gente suspende tudo. O povo que se vire.
Mas não conseguiam se virar as três senhoras cansadas. Finalmente um ônibus para; por uma raríssima exceção, não está lotado. Deve ter passado a hora do pico. As três entram, depois aparecem em janelas acenando para a câmera da TV com a folha de papel com que se abanavam na rua. Felizes, lustrosas, risonhas: conseguiram um lugar para sentar, coisa mais difícil do que cair dinheiro do céu. Nós somos essas pessoas que ficam felizes por poder se sentar em mais uma longa, quente, infernal viagem até seu trabalho — aonde chegariam atrasadas, com desconto, xingação, qualquer coisa. Mas estamos acostumados.

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Demasia


Os filhos que pari trilharam seus caminhos (como dizem que deve ser). Eu não me conformei:andei em seus calcanhares, lancei-me em mil direções,fiquei perdida nesta casa vazia. Toda a noite espreito os velhos quartos para ver se as memórias dormem direito, se escovaram os dentes,fizeram as lições. Meus filhos tiveram outros, e eu me fragmentei ainda mais. No espelho não vejo ninguém: virei poeira de gente,soprada entre eles. Tanto me entranhei em suas ivdas, que tentam limpar-se de mim para poderem crescer,para não serem meus filhos. 

Se Quiserem Me Amar



Se me quiserem amar, terá de ser agora: depois, estarei cansada. Minha vida foi feita de parceria com a morte: pertenço um pouco a cada uma, para mim sobrou quase nada. Ponho a máscara do dia, um rosto cômodo e fixo: assim garanto a minha sobrevida. Se me quiserem amar, terá de ser hoje: amanhã, estarei mudada. 

quinta-feira, 30 de maio de 2013

Em quem Confiar




Ando carente de confiança. Andamos, eu acho. Em quem acreditar, em quem confiar, em quem apostar, a quem eleger. por exemplo? Não sei se em outros tempos a gente confiava mais nas pessoas e nas instituições, e detesto saudosismo, mas penso que sim. Porque éramos simplórios? Pode ser. Hoje talvez sejamos mais espertos, criancinhas conhecem mundos, belezas e maldades que a gente só conhecia depois de casado... E olhe lá.
As instituições pareciam sólidas, Judiciário, polícia e política. Lembro-me do chanceler Oswaldo Aranha, que raro jovem hoje saberá quem foi, mas que teve papel importantíssimo no Brasil e no mundo ocidental, amigo de juventude de meu pai, me pegando no colo, em nossa casa, e profetizando, para meu azar: "Você tem olhos lindos, mas precisa se cuidar ou vai ser gordinha". Lembro o aroma de seu charuto, as cores de sua gravata, a voz profunda, o riso bom, e sua naturalidade em nossa casa que estava longe de ser uma mansão.
"Não dá para arrumar tudo. Mas tem de melhorar, para que a gente durma e acorde ao menos com a sensação de que em algumas pessoas e instituições ainda se pode confiar!"
Quando a professora ou professor entrava em sala de aula, a gente se levantava - isso até o fim do 2° grau -, e não faz um século ainda. Hoje batem nas professoras, jogam objetos, falam alto com o colega ou ao celular, se possível, ameaçam ou ridicularizam. Nem todos nem em toda parte, essa ressalva se faça sempre nos meus textos. Mas são coisas que há alguns anos nem passavam pelas nossas fantasias de adolescentes, naturalmente - e necessariamente irreverentes, numa irreverência que hoje deve parecer patetice. A gente era amigo dos filhos do juiz da cidadezinha, e achava o máximo. O pastor de nossa comunidade luterana era recebido em casa com respeito, mesmo que não fôssemos praticantes de religião alguma. Para meu pai, Deus estava em toda parte, na natureza, no outro, em nós mesmos, fator essencial da nossa dignidade, e do sagrado de tudo.
[...]
Acho que tudo vai ficando chato e cansativo: esperança de um lado, desgosto de outro, bom modelo aqui, corrupto mandando ali. Não dá para arrumar tudo. Nem rei, nem papa, nem o maior guerreiro do mundo antigo ou do atual mundo virtual, nem o mais hábil dos bruxos divertidos ou sinistros, mudaria a face do país com um golpe de espada ou caneta. Mas que tem de melhorar, ah, isso tem, para que a gente durma e acorde ao menos com a sensação de que, sim, em algumas pessoas, algumas instituições e algumas coisas ainda se pode confiar.